Preservação é valiosa para estudiosos de teatro e ópera


A iniciativa de criar o Instituto "Gianni Ratto" partiu da viúva Vaner e da filha do premiado encenador, Antonia Ratto. A preservação e concentração do acervo desse artista múltiplo, morto em 2005, é valiosa para estudiosos de teatro e ópera, pois sua obra completa oferece farto material de pesquisa sobre as artes cênicas e suas transformações no século 20. Por ter consciência disso, o destino de desenhos, cartas, textos, fotos, recortes de jornal e de sua ampla biblioteca tornou-se fonte de preocupação para Vaner, após a morte de Ratto.

"Meu primeiro pensamento foi - ‘isso não me pertence, não tem sentido manter comigo’. Sendo um patrimônio público, me ocorreu doá-lo a um museu para torná-lo acessível a muitos", diz Vaner, na sede do futuro Instituto "Gianni Ratto", no bairro de Perdizes. "Mas sempre há um certo receio dessas instituições no Brasil, não pelas pessoas, mas pelas condições. A gente cansa de ver acervos que permanecem em caixas anos depois de doados", diz ela que restaura e reencaderna livros profissionalmente. "Quando digo eu, na verdade isso significa nós, porque todas as decisões estão sendo tomadas em conjunto. Tudo é decidido em comum acordo com todos os três filhos do Gianni: Antonia, Bernardo e Andrea."

Logo na primeira ‘arrumação’ após a perda de seu companheiro, Vaner deparou-se quantidade maior do que imaginava de papeis guardados. "Comecei por recolher o que estava espalhado pela casa, encontrei desenhos delicados unidos com durex, ele tinha mania de durex, e logo me dei conta que até para doar seria preciso organizar", lembra. Em seguida, ficou evidente que precisaria de ajuda. "Aí vimos pelo jornal, eu e a Antonia, que a Petrobras abrira um edital destinado à Memória do Teatro Brasileiro."

Vaner mudou-se da imensa casa onde morava com Gianni para a aconchegante casinha de vila. Ali, onde reside, manterá o instituto. No dia da visita da reportagem, tudo já parece perfeitamente organizado. "Nossa, você precisava ver como estava isso aqui ao chegarmos. Agora tudo já foi higienizado e a primeira etapa de organização terminou." Gavetas - mapotecas é o nome técnico - com regras rígidas de manuseio guardam desenhos de cenários e figurinos, localizados por meio de fichas de catalogação. Cada uma delas traz diversas informações como data e teatro de estreia, nome do diretor e estado de preservação. "Tudo segue códigos e procedimentos específicos", observa Vaner.

Todos os desenhos de 176 espetáculos cenografados e/ou dirigidos por Ratto no Brasil já estão catalogados e arrumados nos gavetões. "Alguns ainda não conseguimos identificar, mas com o trabalho findo esse número deve chegar a 191", diz Vaner. Para que o projeto fosse aprovado foi preciso seguir normas como a contratação da uma coordenação técnica, feita por Malu Villas-Boas, de bibliotecária, Claudia Cândido, e de um especialista em banco de dados, Alec Sander de Carvalho.

"Os procedimentos têm de ser feitos em etapas definidas tecnicamente", diz Vaner. Para compreender melhor, basta pensar no que acontece com o comum dos mortais quando decide organizar uma correspondência - gasta-se um tempo precioso com a leitura de curiosidades, bilhetes e cartas. "Foi preciso resistir à dispersão. A primeira etapa de triagem da correspondência foi feita separando a nacional da estrangeira, as cartas pessoais das profissionais." Só mais tarde, após outra etapa de trabalho, essas cartas estarão disponíveis no banco de dados. "Por exemplo, tem cartas trocadas com Grassi (cofundador do Piccolo Teatro de Milão) e com Mario Labó (artista plástico)", diz Vaner antecipando o valor dessa parte do rico acervo.

Finda a etapa inicial de higienização e organização patrocinada pelo Petrobras com verba de R$ 286.000,00 outras questões surgem, como a manutenção do instituto. "Um passo na frente do outro, assim eu penso. Por enquanto vamos cuidar da fundação e a etapa inicial, com pesquisadores já podendo agendar visitas ao material organizado", diz Vaner que mora na mesma casa, um sobrado.

Além de desenhos, o instituto guarda textos de peças não publicadas em português, material de trabalho do encenador e cenógrafo, e muitos livros, de artes plásticas, arquitetura, cenografia, teoria teatral, peças editadas e ficção. "A biblioteca também ficará aberta a consulta depois de terminada a catalogação." Nada mais justo com um artista que durante toda sua vida buscou compartilhar saberes. (Beth Néspoli - AE)

Fonte:http://www.cruzeirodosul.inf.br

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